Educação de resultado

           Não podemos esquecer que a descoberta da melhor direção da mudança requer que tenhamos um olhar atento e amoroso sobre as relações humanas. Afinal fazemos parte da comunidade em que estamos inseridos.

 

Descompasso entre

o esperado e o obtido

 

           Digo isso para lembrar que certa vez ouvi de uma supervisora educacional uma história que bem se ajusta ao texto: educação de resultado. Um garoto do ensino fundamental em uma escola particular freqüentemente “aprontava em sala de aula”, fazendo bagunça, perturbando a classe.

 

           A cada episódio os pais recebiam o aviso de que o menino fora parar na sala da diretora e então, por sua vez, a mãe ou o pai se preocupava em chamá-lo para entender a história, cobrar explicações do filho, passar um sermão, e terminava por retirar dele um brinquedo ou atividade como forma de castigo. Isso tudo funcionou? Não, castigos, broncas e ameaças pareciam não ter efeito algum, o menino andava de mal a pior.

 

Exaltação das virtudes,

não dos defeitos

 

           Em desespero de causa buscaram ajuda de uma psicóloga infantil. Essa conversou com o menino, pais e escola. Propôs às partes envolvidas um acordo: os tais bilhetinhos iriam mudar de função; ao final de cada dia a escola se empenharia em enviar um bilhete, de teor absolutamente verdadeiro, sobre algum aspecto favorável do dia letivo do garoto.

 

            Poderia ser o comportamento de ajudar um colega que acidentalmente deixou cair o caderno, acertar a resolução de um problema, colaborar com as atividades, contribuir com idéias, fazer alguma reclamação de modo assertivo, um sem fim de possibilidades, envolvendo comportamentos pró-estudo e pró-sociais, afetivos e favorecedores do convívio entre os envolvidos. E cada passo em tal direção seria comentado em casa, como evidência das capacidades do menino.


           Em um tempo relativamente curto o menino começou a se transformar, e isso ocorreu por meio de mecanismos que se entrelaçavam.

 

           Primeiro, até aquele momento pais e escola de certo modo só enxergavam as inadequações do pequeno e apenas davam “enorme” atenção a ele cada vez que se mostrava rebelde, inadequado, agressivo. As adequações, e elas existiam em alguma freqüência acima de zero, passavam em branco.

 

           Em segundo lugar, algum fator, ou soma de fatores, pode ter dado início a exasperação de aprontações. Pode ter sido uma aula chata, falhas de aprendizagem de algum conteúdo, o fato dos pais terem se tornado mais indisponíveis para o menino (dupla jornada, doença, problemas conjugais, etc.).

 

Criança queria atenção

 para superar medos

 

           Ficou claro que isso serviu para que o comportamento inadequado (que surgiu no contexto da escola) fosse turbinado, fortalecido em termos de sua probabilidade futura, exatamente pelo fato de produzir atenção parental e na escola. “Falem mal, mas falem de mim” tornou-se o lema. Não que o garoto tivesse necessariamente clareza do jogo de forças em ação, mas reagiu a elas em busca de afeto e de atenção focada nele.


           Os adultos por sua vez, não tinham a menor noção do tal jogo. Embora o objetivo das broncas e castigos dos pais fosse enfraquecer os comportamentos-problema, paradoxalmente, tudo o que faziam nessa direção apenas servia para fortalecê-los. Ninguém parecia notar, mas o tiro saia pela culatra.

 

           Atenção, reconhecimento, preocupação e o esforço de alguém que se preocupa conosco, quem não gosta disso? Um menino e uma torcida organizada de um time de futebol importante, todo mundo quer um pouco de afeto. E por vias tortas o menino recebia aquilo do qual estava privado. Não que fosse uma criança lançada às traças, passando fome, sendo vítima de espancamentos e outras coisas horríveis. Mas algo ficou claro: havia atenção de menos para os pontos fortes e excesso de foco sobre os problemas íntimos da criança.

 

Efeitos oportunos de uma intervenção

 espiritual e psicológica

 

           Essa intervenção psicológica e espiritual teve seus efeitos:

            Para ter uma ação positiva sobre meu filho preciso observar o efeito de meus atos sobre os dele e os dele sobre as pessoas; preciso deixar minhas intenções de lado e identificar relações entre comportamentos e suas consequências.

 

            Ao contrário de nossos atos, intenções não bastam para transformar o mundo; no intuito de corrigir o comportamento problemático por meio de broncas, castigos e conversas, as inadequações ganhavam corpo pelo fato de produzirem contato diferenciado com a família ou a diretora.


Famílias, defendam-se!

 

           Nestes tempos caóticos há quem pregue o desprezo pela Família. Entretanto, pela vitória do bom senso, muitos começam a questionar tal pregação esdrúxula, pois percebem que a falta da Família cria revolta nas crianças e adolescentes, afetando-lhes seriamente o futuro. Futuro da sociedade, futuro da humanidade, porque a Família é o berço das civilizações. A crise econômica que muitas vezes obriga pais e mães a saírem em busca de sustento, e o aumento das separações dos casais com filhos têm provocado terríveis desequilíbrios na gente jovem, que representa os dias vindouros do mundo.

 

            Reconhecemos que tudo deve evoluir para o que for realmente melhor. Entretanto, alguns ainda perigosamente confundem caos com progresso, esbórnia com Amor, baderna com liberdade... E depois reclamam que tudo está cada vez pior... Às vezes transmitem, conscientemente ou não, ressentimentos aos outros como se fora coisa muito avançada, progressista, moderna... É necessário que se medite, sem idéias preconcebidas, seriamente sobre isso.

 

            Claro, a escola é imprescindível, mas não pode substituir o Lar. A escola tem de ser quantitativamente ampliada para o acesso de todos, e qualitativamente elevada à enésima potência para que realmente estimule as pessoas a pensar e adquirir qualificação. Mas, não substitui o Lar. Sociedades e Governos unidos tem de encontrar soluções para esse impasse, sob pena de nada mais ter sentido para uma criança, que só quer ter a mamãe e o papai guiando-lhe os passos enquanto for criança.

 

A melhor direção da mudança

 

           Não podemos esquecer que a descoberta da melhor direção da mudança requer que tenhamos um olhar atento e amoroso sobre as relações humanas. Observar os efeitos do que fazemos, testar hipóteses, experimentar o novo e sentir seus efeitos, tudo isso pode ajudar pais e professores.

 

           A Associação Educacional Boa Vontade (AEBV) –– braço institucional da Legião da Boa Vontade (LBV) para a educação e a cultura com espiritualidade ecumênica –– recomenda a você a leitura do livro: É Urgente Reeducar!  uma sugestão para enriquecer o seu conhecimento sobre esse tema.