A revolução que falta acontecer

02/07/2013 21:23

José de Paiva Netto(1)

             "Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando uma pessoa adulta têm medo da luz." Platão.

      Outubro/2013 – O educador José de Paiva Netto com alunos da Supercreche Jesus, que integra a rede escolar da Associação Educacional Boa Vontade (AEBV).

            Há pelo menos dez anos, li na Tribuna da Imprensa, do Rio de Janeiro, do veterano jornalista Hélio Fernandes, reportagem sobre uma palestra de Henrique Lins de Barros, doutor em física e pesquisador titular do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, intitulada “Ciência e Ambiente”. O tema é tão apropriado que resolvi apresentar trechos das palavras dele:


            “‘Se a sociedade não repensar o atual modelo de Ciência, a Terra vai falir. O padrão de desenvolvimento de hoje é insustentável e, se não for modificado, veremos o colapso dos recursos nas próximas gerações’.

            A palestra fechou o Seminário Ciência e Pobreza no Século 21, organizado pela coordenação de pesquisa em pós-graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ele fez uma crítica ao que chamou de imaginário da Ciência contemporânea.

            ‘Antigamente o objetivo principal dos pesquisadores era conhecer a Natureza para auxiliar os mais necessitados; hoje, o compromisso da Ciência é produzir riqueza. Barros citou como exemplo o descompasso entre o mundo real afetado pela miséria e grandes desigualdades e a pauta dos pesquisadores mais preocupados em povoar Marte com micro-organismos. (...) Uma das crises previsíveis, segundo o pesquisador, é a de escassez de recursos hídricos. ‘Em poucos anos, ainda na nossa vida, vamos enfrentar esse problema’. E comparou a forma de a sociedade lidar com o futuro hoje com o uso de drogas: Hoje, usamos tudo sem pensar no futuro, já que não há preocupação nem projetos para criar condições de sobrevivência das futuras gerações’”.

ÁTOMOS X BITS

            Mais de uma década após os alertas do cientista brasileiro, o programa Espaço Aberto – Ciência & Tecnologia, do canal Globonews, na apresentação dos jornalistas Luiz Fernando Silva Pinto e Leila Sterenberg, trouxe interessante matéria sobre a conexão intrínseca entre o avanço tecnológico e o porvir. Nela, fica evidente que o parecer abalizado de outrora do dr. Henrique de Barros merece, nos dias atuais, máxima atenção.

            Na reportagem, Leila Sterenberg destacou que a única certeza que se tem em relação ao futuro é que é em direção a ele que a gente vai, mas, pelo rumo que a vida no planeta vem tomando, o chamado mundo virtual se impõe cada vez mais. Real e virtual se misturam, um alimenta o outro, eu e você que somos feitos de átomos passamos a existir também em bits.

            Ao que comentou Fábio Gandour, cientista-chefe da IBM Brasil: Daqui para a frente, o que for permitido substituir de átomos para bits será substituído, e é bom que seja. Porque — o que está acontecendo? — a população no planeta está aumentando, o número de átomos no planeta é finito, por incrível que pareça, finito e calculável, na grande potência de 10. A população está aumentando, e nosso consumo em átomos, em materiais, está cada vez maior.

            "O corolário desse teorema, se a gente continuar consumindo dessa forma, crescente, numa população que também é crescente – arrisca-se Gandour, da IBM Brasil –, eu sei que vai parecer pouco normal o que vou dizer, mas vou dizer mesmo assim: vai faltar átomo para os habitantes do planeta. Então, é melhor que a gente substitua alguns átomos por bits, porque pelo menos assim a gente garante um estoque de átomos para as gerações que estão por vir.

            "O futuro só será uma maravilha se nós, no presente, tomarmos algumas providências para que esse futuro de fato seja melhor. Cabe ao telespectador pensar nisso e ver o que ele precisa fazer, planejar e transmitir, principalmente aos mais jovens, para que a gente tenha um futuro melhor.

            O programa foi finalizado com este pensamento de Arthur Clarke (1917-2008), escritor, cientista e visionário, que considerava o presente a maior inspiração para o futuro: Comunicação e tecnologia são necessárias, mas não bastam para que nós, humanos, nos relacionemos bem. É por isso que ainda há muitos conflitos no mundo. A tecnologia nos ajuda a reunir e difundir informações, mas ainda precisamos de qualidades como tolerância e compaixão para alcançar um entendimento entre povos e nações”.


            Trata-se de grande verdade que urge vivenciarmos. O Mandamento Novo do Cristo de Deus – constante do seu Evangelho segundo João, capítulo 13, versículos 34 e 34, e capítulo 15, versículos de 7 a 17 – singulariza o Amor sem máculas que torna a criatura capaz de doar-se em prol do seu semelhante. É indispensável fator de equilíbrio.

            “Novo Mandamento vos dou: Jo 13:34 – Amai-vos como Eu vos amei.

            Jo 13:35 – Somente assim podereis ser reconhecidos como meus discípulos, se tiverdes o mesmo Amor uns pelos outros.

            Jo 15:7 – Se permanecerdes em mim e as minhas palavras em vós permanecerem, pedi o quiserdes, e vos será concedido.

            Jo 15:8 – A glória de meu Pai está em que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos.

            Jo 15:10 – Se guardardes os meus mandamentos,  permanecereis no meu Amor; assim como tenho guardado os mandamentos de meu Pai e permaneço no Seu Amor.

            Jo 15:11 – Tenho-vos dito estas coisas a fim de que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa.

            Jo 15:12 – O meu Mandamento é este: que vos ameis como Eu vos tenho amado.

            Jo 15:13 – Não há maior Amor do que doar a  própria Vida pelos seus amigos.

            Jo 15:14 – E vós sereis meus amigos se fizerdes o que Eu vos mando. E Eu vos mando isto: amai-vos como Eu vos amei.

            Jo 15:15 – Já não mais vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor. Mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto aprendi com meu Pai vos tenho dado a conhecer.

            Jo 15:16 – Não fostes vós que me escolhestes; pelo contrário, fui Eu que vos escolhi e vos designei para que vades e deis bons frutos, de modo que o vosso fruto permaneça, a fim de que, tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, Ele vos conceda.

            Jo 15:17 – E isto Eu vos mando: que vos ameis como Eu vos tenho amado.

            Jo 15:9 – Porquanto, da mesma forma como o Pai me ama, Eu também vos amo. Permanecei no meu Amor.”

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

COMEÇA NO BERÇO

            Falando por videoconferência ao corpo docente da Associação Educacional Boa Vontade (AEBV) do Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Estados Unidos e Portugal (em fevereiro de 2000), alertei para o fato de que a escola é imprescindível, mas não substitui o lar. O Estado e a sociedade têm de, unidos, gerir soluções para que as famílias criem e eduquem dignamente os seus filhos.

            A palestra foi publicada anos mais tarde em revista e especialmente dirigida aos participantes do High-Level Segment 2007, do Ecosoc (ONU), em Genebra, Suíça.

            Eu me recordo que o tema educação para a vida também foi publicado no jornal Folha de S. Paulo, Brasil, em 27 de julho de 1986, quando entreguei a população paulistana a primeira escola da rede educacional da AEBV, e em poucas palavras afirmei:

            Aqui se estuda. Formam-se cérebro e coração, porque trata-se da Pedagogia de Deus, que é Amor, a qual capacita o indivíduo para viver a cidadania ecumênica, firmada no exercício pleno da Solidariedade Espiritual, Humana e Social.

            Na Pedagogia do Cidadão Ecumênico, a Pedagogia do Amor, do Carinho e do Afeto, o Espírito que anima o corpo humano possui lugar preponderante na nossa lide. Entretanto, na preparação de jovens e adultos para a subsistência neste mundo material de tecnologia jamais vista — e, paradoxalmente, na atualidade, tão instável para os que labutam pelo futuro próprio —, devemos levar na mais alta consideração que os educandos têm de ser com eficiência qualificados para a exigente demanda do acirrado mercado de trabalho. E mais: de tal maneira que não persigam um caminho em que a profissão para a qual se aprontaram não mais exista ao fim do curso.

            Analisando esse planejamento que elaboramos, e tem dado bons resultados em toda a nossa rede escolar, a pedagoga Maria Suelí Periotto –– supervisora da linha educativa da Associação Educacional Boa Vontade (AEBV) e diretora do instituto de educação que leva o meu nome em São Paulo –– disse o seguinte:

 

            "Os bons resultados da linha pedagógica criada pelo educador José de Paiva Netto, aplicada nas escolas, lares e atividades socioassistenciais das Instituições da Boa Vontade(2), crescem com a saudável prática solidária de compartilhar as experiências positivas com outras instituições de ensino.

            "Tem chamado a atenção de educadores a motivação identificada nos estudantes da AEBV, que, nessa educação diferenciada, direcionam a busca do conhecimento sempre com 'uma visão além do intelecto', conforme define o dirigente da Instituição.

            "É assim que, no dia a dia, a intelectualidade recebe o toque da Espiritualidade Ecumênica, sempre aliada à excelência pedagógica, no enriquecimento da formação integral (Cérebro e Coração) do educando, como também defende o propositor da linha educacional da AEBV. Para ele, apenas desenvolver o raciocínio pode propiciar o desenvolvimento de mentes brilhantes que, no entanto, podem correr o risco de suprimir o sentimento de Solidariedade.

            "A metodologia própria da Instituição — o MAPREI (Método de Aprendizagem por Pesquisa Racional, Emocional e Intuitiva) — atende aos anseios de quem educa, pois envolve o educando em pesquisas e atividades que o motivam a frequentar a escola, sem evadir-se. Na AEBV, isso acontece. Não há evasão escolar. Exatamente porque o MAPREI propõe o protagonismo do estudante, com a mediação do professor, motivando-o a estudar e mostrar seu valor.

            "O aspecto da racionalidade é aliado ao fator intuitivo, o que amplia (e muito) o conceito total dos temas a serem trabalhados — uma vez que o aluno sente-se partícipe do próprio processo de aprendizagem, e o educador não se assume no papel de quem domina o saber.

            "Ocorre, sim, uma parceria, e nela a criança e o jovem têm seu espaço, sem deixar de identificar no professor o orientador e o responsável em conduzir todas as ações que abrilhantem o conteúdo que eles precisam receber, de acordo com suas faixas etárias.

            "A AEBV traz alargadas perspectivas de continuidade acadêmica para a vida de meninos e meninas, que, mesmo ao enfrentar diversas situações de vulnerabilidade, não são mensurados intelectualmente pelas lentes de momentâneas condições socioeconômicas: revelam suas reais habilidades e competências ao serem incentivados a buscar o seu potencial dentro — a bagagem espiritual, que é a soma do nosso real conhecimento, tudo o que vai além da bagagem cultural.

            "No seu livro É urgente reeducar!, Paiva Netto afirma que '(...) é essencial enxergar além do intelecto. A mente sem o sentimento é forma castradora de pensar'. Sim, precisamos, cada vez mais, incentivar o desenvolvimento do pensar, com o imprescindível cuidado de direcioná-lo a solidárias ações práticas, que nasçam do indispensável respeito ao outro e reforcem essa conduta. E não há local mais propício para tal exercício do que a sala de aula.

            "Daí o papel da Pedagogia do Afeto, direcionada às crianças até os 10 anos de idade, por reconhecer que os primeiros anos da existência sedimentam todo o aspecto emocional que carregamos vida afora, uma vez que estamos lidando com o que está subjetivo, mas existe e está presente na bagagem espiritual que todos possuímos (mesmo na mais tenra idade).

            "E daí, na continuidade da linha pedagógica da AEBV, o Paiva Netto indica a Pedagogia do Cidadão Ecumênico, dirigida aos que têm 11 anos em diante, para nortear as ações necessárias ao desenvolvimento solidário de pré-adolescentes, adolescentes, adultos e idosos, tendo em vista que somos eternos aprendizes, avançando diuturnamente na escala da nossa evolução espiritual.

            "Ao estabelecer como bandeira de sua pedagogia o Novo Mandamento do Educador Celeste — 'Amai-vos como Eu vos amei. Somente assim podereis ser reconhecidos como meus discípulos' (Evangelho de Jesus segundo João, 13:34 e 35) — o dirigente da AEBV nos convida a observar, como bons educandos diante do universo do conhecimento, o modelo de conduta que o Divino Mestre nos legou. Ele que se perpetuou, de forma marcante, também, como o maior pedagogo que já passou pela Terra, ao abordar as mais diversificadas temáticas por meio de parábolas, estimulando cada um de Seus ouvintes e seguidores a estender o sentimento de religiosidade aos mais diversificados segmentos da sociedade.

            "A educação com espiritualidade ecumênica é, portanto, o diferencial do ensino nas escolas da Associação Educacional Boa Vontade, que tem sido, inclusive, compartilhado com as instituições de ensino que a procuram em busca dessa prática pedagógica de excelência, que reflete beneficamente no alargar do conhecimento intelectual orientado pelos valores éticos, ecumênicos e espirituais".

 

            Como você pode perceber, é essencial as crianças, adolescentes e jovens receberem formação eficaz para que sejam arrojados, empreendedores, de modo que possam suplantar os fatos supervenientes que, a qualquer instante, desafiam a sociedade, assustando multidões.

            (...) De nada adiantarão, portanto – digamos para argumentar –, planejamentos audaciosos se não houver quem tenha sido devidamente instruído para desenvolvê-los. Por isso mesmo, cuida do Espírito, reforma o Ser Humano, e tudo se transformará! 

            Ora, o progresso é necessário, mas a preservação da vida com sustentabilidade no planeta é o mínimo de bom senso que se espera de todos. Eis a revolução que falta acontecer. Com a ajuda da população estamos fazendo a nossa parte.

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(1) jornalista, radialista, escritor, diretor-presidente das Instituições da Boa Vontade

(2Legião da Boa Vontade (LBV); Associação Educacional Boa Vontade (AEBV); Fundação Boa Vontade

     (FBV); Fundação José de Paiva Netto (FJPN); e Religião de Deus, do Cristo e do Espírito Santo (RD), formam

     as Instituições da Boa Vontade presididas pelo jornalista, radialista e escritor José de Paiva Netto.