As lágrimas do Povo negro foram recolhidas por Jesus Cristo.

28/07/2013 12:20

Gelson dos Santos, do site SigaJC.com

            No livro Memórias de um suicida, obra inspirada, escrita pela saudosa espiritualista Yvonne do Amaral Pereira, no capítulo III: Homem, conhece-te a ti mesmo!, particularmente às páginas de 471 a 480, encontramos interessante explicação do motivo das provações que toda pessoa experimenta desde sempre neste mundo. Segundo o texto, é conseqüência dos atos ilegítimos do passado, mesmo daqueles que a sociedade de outrora avalizava, não a Lei de Deus.

           Ora, a verdade não é híbrida, não é sincrética, não é eclética, não é sectária, "a verdade é a palavra de Deus", Jesus Cristo a revelou na sua oração sacerdotal:

 

           “Santifica-os Pai, na verdade; a tua palavra é a verdade (João 17: 17).

 

           Tenho visto na mídia e sentido no meu coração que vivemos momentos importantes em toda a Terra. Antigas questões ligadas ao resgate da dignidade do Povo negro afloram, denunciando que se esgota o prazo para corrigirmos seculares distorções na maneira de ver, de viver, e de conviver enquanto diferentes na pele, mas da mesma origem no Espírito.

 

           “Não se erige um Brasil melhor e uma humanidade mais feliz fazendo coleção de erros, mas catalisando os acertos. É verdadeiro suicídio querer igualar as pessoas por aquilo que têm de mal. Nascer de novo é aproveitar as valiosas oportunidades que recebemos do Pai Celeste para a nossa redenção. E esta liberdade só pode ser alcançada pelo conhecimento da verdade de Deus e pela prática da Caridade. Atitudes que nascem da consciência tranqüila, diante do dever cumprido, por mais difícil que seja. Quem assim se liberta, não mais conhece a escravatura, nem a aceita, por mais tormentosa que lhe seja a provação”.

 

           “Fiquemos atentos, portanto. A história das pessoas é também a nossa história. Suas quedas nada mais representam do que as fraquezas da própria humanidade em lutas diárias com as próprias paixões. Somos todos almas a quem a iniciação espiritual em princípios de moral elevada e redentora trata de nos conduzir aos pórticos do dever” (Livro: Memórias de um suicida, Yvonne A. Pereira, editora da FEB).

Ficheiro:Yvonne do Amaral Pereira foto.jpgYvonne do Amaral Pereira (1906 – 1984) 

 

           Os irmãos africanos que aceitaram a missão dada por Jesus Cristo, de vir à Pátria do Cruzeiro do Sul a fim de enriquecê-la com a sua cooperação, sempre cultivaram n’alma o desejo ardente e sublime da própria reabilitação espiritual em Deus. As sociedades da então Colônia de Portugal (Ilha de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz, Brasil) também aceitaram a tarefa de amparar fraternalmente aquele Povo de pele negra.

 

            Mas, invigilantes às ponderações do céu, se deixaram arrastar pela presunção, renegando o compromisso firmado com o próprio Cristo de ajudar essa gente de cútis escura na sublimação do sentimento, no enriquecimento da palavra, e na eficácia da ação, a fim de também merecerem acelerar a colheita de Misericórdia Divina no porvir.

 

           As lágrimas impingidas ao Povo de pele negra, de pele mestiça, e aos de pele branca que estavam na miséria, foram recolhidas uma a uma por Jesus; e agora por Lei estão espalhadas sobre a mesma coletividade criminosa de outrora, para que, por sua vez, as sorva nas pelejas do nascer de novo, e se purifiquem do acervo de maldades e infâmias praticadas no comércio abominável que não poupou martírios incontáveis aos míseros que um dia com instintos desumanos ousaram truculentos escravizar, ordenando chicoteá-los ainda que pela mais insignificante falta ou mesmo por nenhuma.

 

           “(...) Deus quer que todos os seres humanos tenham Paz na Terra. Mas o Criador não pode revogar a Sua própria Lei, que dá a cada um – homem, povo ou nação – exatamente de acordo com o seu merecimento”. (Livro: DERD, vol. I, Paiva Netto, editora Elevação).

 

           “Ninguém se iluda, pois Deus não se deixa escarnecer; aquilo que o ser humano semear, isso mesmo terá de colher” (Gálatas 6: 7).

 

           Por isso a pátria brasileira do Século XXI, apesar de tantos avanços na criação de estatutos legais pelo fim das inquietações étnicas em solo tupiniquim, o país ainda se debate ante os problemas sociais, que de tão complexos transformou o Brasil num país singular, repleto de contrastes de toda ordem. E apesar de louváveis políticas públicas, essas injustiças sociais ainda desafiam as mais sábias inteligências humanas.

Ficheiro:E70 p22.jpg
ilustração de Jean Baptiste Debret.
 

           Suas sociedades, em lutas dolorosas consigo próprias, vitimadas por um acúmulo de agravos que as desorientam, ocupam postos mais benfazejos àqueles que ontem se viram impedidas e vergadas sob aflições coletivas. Enquanto que os presunçosos e imprevidentes do passado jazem relegados à indiferença das “classes favorecidas” do presente. Mas Deus não abandona seus filhos.

 

           “Buscai primeiramente o Reino de Deus e sua Justiça, e todas as coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6: 33).

 

           “O ideal místico do Oriente e a visão pragmática do Ocidente que se elevarem a Espiritualidade Superior, desbastarão as arestas de ambas as mentalidades, destruindo os radicalismos, sempre tão prejudiciais, ajustando para isto as engrenagens que ainda movem em separado esses mundos, para que juntamente passem a mover um mundo novo no qual os seres do céu (nossos Anjos Guardiães) e toda a humanidade alijará da face do mundo todo tipo de escravidão” (Livro: DERD, vol. I, Paiva Netto, editora Elevação).

 

           “Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus” (Mateus 5: 48).

 

           “Se trouxeres a tua oferta ao altar de tua devoção, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti; deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta. Reconcilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão. Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil” (Mateus 5: 23 a 26).

 

           “Mas a voz do Cristo Eterno, do grande gênio criador desce ao mundo inferior” e fala a grande pátria do Cruzeiro do Sul:

 

           Novo Mandamento vos dou: Amai-vos como Eu vos Amei. Somente assim podereis ser reconhecidos como meus discípulos, se tiverdes o mesmo Amor uns pelos outros. O Meu Mandamento é este: que vos ameis como Eu vos tenho amado. Não há maior Amor do que doar a própria Vida pelos seus amigos. E vós seres meus amigos se fizerdes o que Eu vos mando. E Eu vos mando isto: amai-vos como Eu vos amei. Já não mais vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor. Mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto aprendi com meu Pai vos tenho dado a conhecer. Não fostes vós que me escolhestes; pelo contrário, fui Eu que vos escolhi e vos designei para que vades e deis bons frutos, de modo que o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, Ele vos conceda. E isto Eu vos mando: que vos ameis como Eu vos tenho amado. Porquanto, da mesma forma como o Pai me ama, Eu também vos amo. Permanecei no meu Amor (João 13: 34 e 35: 15: 9,12 a 17).

 

           Jesus veio ao mundo para iluminar as consciências de todos os povos, tribos e nações da Terra, lembrando-as de antigos compromissos assumidos na Pátria Espiritual.

 

           “Desde já vos digo, antes que aconteça, para que quando acontecer creiais que Eu sou. Em verdade, em verdade vos digo: Quem recebe aquele que Eu enviar, a mim me recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou” (João 13: 19 e 20).

 

           O escritor José de Paiva Netto, presidente das Instituição da Boa Vontade traz também a sua cooperação:

 

           "Aproveito o ensejo para ressaltar a influência da mensagem redentora de Jesus, o Cristo Ecumênico, a libertar-nos do maior de todos os cativeiros: a ignorância a respeito das leis divinas que regem o Universo. Uma leitura atenta do Evangelho e do Apocalipse, em Espírito e Verdade à luz do Mandamento Novo do Educador Celeste, nos ilumina a consciência nesse caminho. Cai por terra a visão medíocre de pretensas supremacias étnicas.

            "A cor da pele jamais poderá qualificar o Espírito eterno da critura humana, criado à imagem e semelhança de Deus, que é Amor (Gênesis, 1:26 e Primeira Epístola de João, 4: 8.). Por sinal, um compus uma obra melódica, intituladaNegrada, Jesus o Grande Libertador, que muito sucesso fez quando do seu lançamento no ano de 1983, em Salvador, na Bahia, numa homenagem que eu prestei ao povo do Nordeste Brasileiro."

 ilustração da capa do CD 

Negrada — Jesus, o Grande Libertador, do compositor Paiva Netto.

 

            O escritor tem razão. Receber Jesus e toda a sua coorte celeste é reconhecer que a ligação das pessoas de Boa Vontade com o próprio Deus Pai Todo-Poderoso foi restabelecida, para que as lições do Educador Divino sejam aplicadas sem tergiversações em todos os campos do saber, a partir do sentimento humano, motivando-o a exemplificar a Caridade do Novo Mandamento aonde quer que esteja, e assim apascentar as Almas estremecidas pela escravidão e pelo racismo infames. Trata-se de um trabalho sublime da reconciliação individual e coletiva, na convivência e na cooperação pacífica entre semelhantes de todas as etnias e cores de pele.

 

           “Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os Irmãos!” (Salmos 133:1).

 

           “Pois qualquer que fizer a vontade de meu Pai Celeste, esse é meu irmão, irmã e mãe” (Mateus12: 50).

 

           Oxalá todos os brasileiros e estrangeiros que vivem neste País leiam e considerem seriamente estas passagens bíblicas, pois o mundo foi criado por Jesus.

 

           “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez. Estava no mundo, e o mundo foi feito por intermédio Dele, mas o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam” (João 1: 2, 3, 10, 11).

 

           É o que aprendemos naquela magistral página do jornalista José de Paiva Netto: O Abolicionista Divino’, onde ele revela que “existe um Libertador cuja extraordinária presença luminosa resiste à passagem do tempo, e cuja influência transcende limites ou datas humanas: seja maio (Lei Áurea) ou novembro (o sacrifício de Zumbi, Dia da Consciência Negra). Sua atuação é constante. Enquanto houver fome, desemprego ou subemprego por motivos étnicos, falta de teto, menores sem escola e carinho, idosos sem amparo e afeto, gente sem quem a conforte, há uma inadiável abolição da escravatura de todas as etnias ainda por fazer (...), pois libertar-se é ter, acima de tudo, discernimento espiritual”. De Jesus Cristo parte a prosperidade que toda criatura humana e espiritual necessita para viver em Paz com os seus irmãos neste mundo.

Ilustração: "Jesus Cristo fala ao povo: Sermão da Monte"

 

           “Deixo-vos a Paz. A minha Paz vos dou. Eu não vou dou a paz do mundo; Eu vos dou a Paz de Deus, que o mundo não vos pode dar. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize”; pois estarei convosco todos os dias até o fim do mundo (João 14: 27).

 

           “A mensagem desse memorável Benfeitor, sobrepaira além de religiões e ideologias. Seja no mês de maio ou de novembro, o Abolicionista Divino primeiro nos liberta de nós mesmos, indicando-nos o caminho da Luz. A essência do Seu Evangelho, a Solidariedade, emancipa as criaturas de todas as origens, pois as transforma de dentro para fora, fala aos corações de crentes e ateus e nada tem a ver com os excessos de diferentes gerações que se martirizaram pelos séculos. Toda humanidade deveria ecumenicamente estudá-la, esmiuçando o seu pensamento ético, social, econômico, político e religioso, singularizado no socorrer, na angústia e no desespero, as viúvas e os órfãos, os sedentos e os famintos, os nus, os enfermos e os presos” (Mateus 25: 34 a 40).

 

           Incompreensível, os brasileiros agem como se ainda fossem pré-adolescentes, que não sabem qual caminho trilhar. Mas, para que não vingue a escravidão dos tempos modernos e o desejo das massas populares de promoverem revoluções sangrentas, com inevitável racha no País, cabe as pessoas de Boa Vontade, filhas amantíssimas do espiritualmente revolucionário Novo Mandamento de Jesus, darem o seu exemplo pessoal de rebeldia, empunhando o escudo da Verdade Eterna que está na Bíblia Sagrada, e aplicar seus fundamentos em todas as áreas do saber, balsamizando-as, ainda que isso lhes imponha certo sacrifício.

 

           Ah! Mas a violência de hoje é extrema! O Brasil é considerado um dos países mais injustos do mundo no quesito social e um dos mais desiguais na distribuição de renda! Será que a culpa é do povo ou da senzala que não foi de todo desmontada? É da globalização? O momento convida a uma profunda reflexão sobre o grau de influência com que nós temos contribuído para o recrudescimento desses tristes fatos. O escritor francês Montaigne (1533-1592) dizia, e com razão: "Cuidamos apenas de encher a memória dos estudantes e deixamos vazios o entendimento e a consciência" de que somos todos seres humanos, e temos por dever o entendimento fraterno e a mútua cooperação.

 

           “O herói do seu tempo, Zumbi dos Palmares deu o brado que nenhum Domingos Jorge Velho poderia abafar: Liberdade! Dignidade! Somos Seres Humanos!

Busto de Zumbi dos Palmares em frente ao

Setor de Diversões Sul, em Brasília,DF.

 

           Morreu-lhe o corpo. Mas a Alma — quem conseguirá matar uma idéia que veio para ficar? — permanece... e se multiplica nas palavras e atos de um José do Patrocínio, Joaquim Serra, Luís Gama, Salvador de Mendonça, André Rebouças, Castro Alves, Joaquim Nabuco e de tantos outros negros, brancos, e mestiços. Se ainda não há democracia étnica dentro de nossas fronteiras — embora o Brasil seja um povo de etnias mescladas, para cuja sobrevivência é essencial estar plenamente legitimada e vivida a sua brilhante mestiçagem –, é porque o espírito de senzala continua grassando. Contudo, é justamente na natureza miscigenada que consiste a sua força”.

 

           Minha crença é de que toda pessoa recebe espiritualmente tudo aquilo de que necessita para alçar céus maiores. Teremos um dia um Brasil em que cada um se sentirá incluído no significado maior da existência humana e cidadã. Que ninguém faça de erros do passado, pretexto para displicência maior no presente. Estereotipar equívocos e/ou negar oportunidades dignas para todos por causa da cor da pele, sejamos negros ou brancos, é falta de habilidade; não promove o país, não dá segurança, nem salva a consciência de quem quer que seja.

 

           “Eis a mais inadiável caridade que Jesus Cristo nos oferece nesta época de tanto egoísmo: para libertarmo-nos, precisamos libertar; para salvarmo-nos, necessitamos salvar. É a Lei da Reciprocidade (de que também falava o sábio chinês Confúcio)

 

           “Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a Lei e os Profetas” (Mateus 7: 12).

 

           “Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã trará os seus cuidados. Basta a cada dia o seu próprio mal” (Mateus 6: 34).